A educação ambiental é a arte de formar, inventar, descobrir conceitos, aprender a pensar e principalmente de formar sujeitos ecológicos. Educar ambientalmente é refletir sobre o atual contexto em que vivemos, a fim de reverter problemas ambientais. Portanto, ela está relacionada com o pensar, com o agir e com todas as questões que envolvem a sociedade, sejam elas culturais, econômicas e sociais. É formadora de seres pensantes, capazes de refletir sobre sua ética e seus princípios, incluindo-se assim na sociedade.
Pensar e refletir sobre educação ambiental é ir ao encontro dos saberes populares. O acúmulo deste saber, resultado de muitas reflexões, vai permitir que o indivíduo em formação possa responder perguntas surgidas do mundo. Conhecer diferentes assuntos e problemas permite fazer questionamentos, desse mundo complexo e em constante evolução. Para Paulo Freire (1995), para educar deve-se captar o mundo vivenciado, de forma consciente, e transformá-lo, pois só assim a educação popular será mais justa e terá um pensamento concreto. Por isso cabe a todos nós, independente do que somos, filosofar e descobrir qual é o problema, para poder curar e reverter aquilo que está destruindo a nossa educação.
Quando se é educado ambientalmente, demonstra-se a construção de uma conscientização de cidadania, buscando-se justiça. Porém, possuir conhecimento não é o bastante para a transformação. Ser detentor de um conhecimento e não utilizá-lo como um instrumento de modificação do status quo, é deter um conhecimento que não tem sentido. O conhecimento só é válido quando permite a ação.
Na pesquisa “Geografia, educação ambiental e inclusão social em áreas de risco” fomentou-se a interdisciplinariedade, transdisciplinariedade e multidisciplinariedade da educação ambiental. Trilhamos caminhos que promoveram e geraram mudanças de comportamentos das comunidades envolvidas. Promoveu-se aos educadores formais das comunidades escolares e não-formais dos centros comunitários, localizados em áreas de risco geomorfológicos em encosta da Crista de Porto Alegre, o conhecimento da morfodinâmica do lugar a partir da confecção e divulgação de materiais didáticos que abordem a história local, o atual contexto em que vivem, para compreender os processos morfogenéticos, as questões ambientais implicadas, assim como, o espaço vivido como uma realidade modificável, buscando assim o exercício da cidadania e inclusão social.
A comunidade escolar teve um papel importante para o desenvolvimento desta pesquisa, a Escola Estadual de Ensino Médio Professor Oscar Pereira, localizada no Morro da Polícia no Município de Porto Alegre, abriu espaço para serem testadas práticas no ensino formal. Observamos o comportamento dos sujeitos implicados, além de testar diferentes metodologias para despertar o interesse para as questões ambientais e a construção da cidadania, para melhor resolver os problemas locais. A educação ambiental permite assim que o indivíduo sirva e exerça a sua cidadania, construindo conceitos e participando para transformar a sua realidade vivida.
A educação ambiental permite compreender o meio, as diferentes noções espaciais e temporais, juntamente com os fenômenos sociais, culturais e naturais característicos de cada paisagem. No entanto, compreender o que é e como é um lugar, não é tão fácil assim, pois nem sempre todos os elementos deste estão em harmonia. O lugar é onde estão todas às referências pessoais e o sistema de valores que direcionam o homem a construir as diferentes formas de perceber o espaço geográfico. Somente entendendo a realidade local, o homem faz a sua comunicação com o mundo e transforma da sua maneira o espaço.
O conceito de ambiência de Nelson Rego (2003) nos mostra o espaço geográfico como um objeto catalisador de ações que visa reverter à realidade de um determinado lugar, mostrando assim, que o homem é um ser em constante transformação e que pode, assim, modificar o seu lugar.
A geografia pode e deve ter como objetivo mostrar ao aluno que cidadania é também o sentimento de pertencer a uma realidade como um todo integrado, que está constantemente em transformação, do qual ele faz parte e por isso, precisa conhecer, entendendo a sua participação, sendo este indivíduo responsável e comprometido historicamente pela formação e pelos valores de um determinado lugar. É fundamental propiciar ao aluno a sua participação, no sentido de fazer com que reflita sobre suas vivências e experiências, indagando sua realidade para que possa compreender as diferentes situações de cada lugar de maneira que o mesmo entenda a construção do espaço geográfico. Assim, os alunos poderão desenvolver a capacidade de identificar e refletir sobre diferentes aspectos da realidade, avaliando a relação entre a sociedade e natureza nos diversos e diferentes lugares.
Valorizando a geografia e a educação ambiental, o aluno compreenderá o seu cotidiano, o seu lugar de vida, permitindo enxergá-lo de forma significativa. É fundamental que o espaço vivido pelos alunos seja o ponto de partida para os estudos ambientais, pois permitirá relacionar o local, com o regional e, também, com o global. A educação ambiental focada no local nos projeta para uma percepção global e para a reflexão dos problemas existentes. Compreendendo o seu lugar, o aluno pode, também, imaginá-lo de outra forma e entendê-lo, valorizando assim os fatores culturais da vida cotidiana, permitindo compreender ao mesmo tempo a pluralidade e a singularidade dos diferentes lugares do mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REGO, Nelson; AIGNER, Carlos; PIRES, Cláudia; LINDAU, Heloísa. Um Pouco do Mundo Cabe nas Mãos: geografizando em Educação o Local e o Globo. Ed. UFRGS, Porto Alegre, 2003.
FREIRE, Paulo. Educação Como Pratica Da Liberdade. Ed. Paz e Terra, São Paulo, 1995
Nenhum comentário:
Postar um comentário