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30 de janeiro de 2014

A Escola Dominical; sua estruturação, história e atual situação frente aos desafios da pós-modernidade.



   A Escola Dominical; sua estruturação, história e atual situação frente aos desafios da pós-modernidade.
Por Oseias de Lima Vieira

1- Origem da Escola Dominical

  Durante dezessete séculos de história da igreja, não encontramos nenhuma instituição que  foi voltada notadamente para receber às necessidades espirituais das crianças.  Escolas dominicais nasceram em resposta a uma necessidade de instrução bíblica. Elas de início foram independente das igrejas que as opunham alegando desvio do Dia do Senhor e da inutilidade de instruir crianças desprovidas.
 Quando comemoramos o dia da Escola Dominical no 3° domingo de setembro, normalmente lembramos o seu fundador, Robert Raikes (1736-1811), jornalista inglês que no ano de 1780, em Gloucester[1], na Inglaterra, começou um trabalho de educação com meninos de rua, ensinando-lhes, além da Bíblia, aritmética e inglês.  Equivocadamente, tornou-se conhecido como o criador da escola dominical, pois só anos mais tarde as pesquisas revelaram o pioneirismo da jovem Hannah Ball. Em 1769, uma inglesa havia começado trabalho similar em High Wycombe. Hannah Ball relataria o seu trabalho a John Wesley em 1770:

A história registra que no ano de 1769, a jovem Hannah Ball Moore, com 26 anos de idade, criou a primeira Escola Dominical em sua residência. Ela aceitou a Cristo através de um sermão de João Wesley e se comprometeu com a evangelização de crianças nos domingos pela manhã. Imagem ilustrativa

As crianças se reúnem duas vezes por semana, aos domingos e segundas-feiras. É um grupo meio selvagem, mas parece receptivo à instrução. Trabalho entre eles com a ânsia de promover os interesses de Cristo[2].

Com entusiasmo e apoio de inumeráveis pessoas, tais como, John Wesley (1703-1791) e William Fox, (1736-1826) [3],diácono da Igreja Batista da Rua Prescott, em Londres  que fundou a primeira organização para promover escolas dominicais.  Os dois deram apoio a Raikes, mesmo antes que Raikes mostrar-se ao público o que vinha acontecendo nas cozinhas de Gloucester por aproximadamente três anos. 

Rev.John Wesley


O movimento floresceu as Escolas dominicais se multiplicaram, a rainha Carlota em certa disse audiência com a Raikes disse, “eu tenho a certeza que as escolas dominicais são, atualmente, a melhor instituição prática para controlar esses elementos indisciplinados e violentos da sociedade e providenciar-lhes uma educação básica[4].”


  Os Wesleys exortaram todas as Sociedades Metodistas a instituírem uma escola dominical. Outras denominações foram mais lentas em responder, e foi por volta de antes de 1900 que as escolas dominicais tiveram aceitação geral.  Até o momento da morte Raikes, em 1811, havia quase meio milhão de crianças matriculadas nas Escolas Dominicais. William Fox fundou a Sunday School Society em Londres, em 1785, e, apoiado por vários amigos ricos, ele começou a espalhar a ideia.
Quando os primeiros missionários protestantes começaram a chegar ao Brasil, o movimento das Escolas Dominicais já estava firmado na Inglaterra, tendo também, se tornado muito forte nos Estados Unidos e logo a escola dominical também foi implantado no  Brasil  antes mesmo de se estabelecer   Vejamos então, como a Escola Dominical surgiu no Brasil.

2- A Escola Dominical no Brasil

Em 1836, o Rev. Justin Spaulding organizou no Rio de Janeiro, entre estrangeiros, uma congregação com cerca de 40 pessoas e em junho abriu uma Escola Dominical com 30 alunos, dos quais alguns eram brasileiros, ensinados na sua própria língua conforme consta no relatório enviado ao secretário correspondente da Sociedade Missionária da Igreja Metodista. Episcopal datado de 01 de setembro de 1836:

(...) Conseguimos organizar uma escola dominical, denominada Escola Dominical Missionária Sul-Americana, auxiliar da União das Escolas Dominicais da Igreja Metodista Episcopal... Mais de 40 crianças e jovens se tornaram interessados nela (...). Está dividida em oito classes com quatro professores e quatro professoras. Nós nos reunimos às 16:30 aos domingos. Temos duas classes de pretos, uma fala inglês, a outra português.  Atualmente parecem muito interessados e ansiosos por aprender. (Duncan A, 1984, p. 81-82)

O trabalho do missionário Metodista apesar de ter sido bem iniciado, teve curta duração, a missão metodista, por várias causas, terminou as suas atividades no Brasil em 1841. Neste mesmo ano ou em 1842 o Rev. Spaulding regressou aos Estados Unidos.
Outros missionário igualmente trouxeram a escola dominical ao Brasil como  Robert Reid Kalley (1809-1888), médico e pastor escocês  sua  esposa, Srª Sarah Poulton Kalley (1825-1907)  os dois Congregacionais e ainda citamos  o Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867) que foi o primeiro missionário presbiteriano a se estabelecer no Brasil 12 de  agosto de 1859.
De acordo com Vicente T. Lessa[5], Kalley realizava um trabalho muito corrido por atividades de âmbito médico, fundando inclusive um hospital  educacional e religioso.
A Escola Dominical congregacional foi implantada pelo casal Kalley em Gerheim[6] na tarde de 19 de agosto de 1855. Isto ocorreu com a permissão do embaixador americano Sr. Webb, que ainda não desocupara a casa, com quem o Dr. Kalley fez boa amizade. Na ocasião a Srª Sarah Poulton Kalley leu a história do profeta Jonas, ensinou- lhes alguns hinos e deram graças ao Senhor.
O rev. Ashbel Green Simonton missionário presbiteriano começou uma classe de Escola Dominical no Rio de Janeiro, em 22 de abril de 1860 conforme consta no diário de Simonton[7] este foi o seu primeiro trabalho em português. Os documentos utilizados com as cinco crianças presentes (três americanas da família Eubank e duas alemãs da família Knaack), foram: A Bíblia, O Catecismo de História Sagrada e o Progresso do Peregrino, de Bunyan.  Duas das crianças, Amália e Mariquinhas da família Knaack admitiram que na segunda aula 29 abril de 1860, terem dificuldade em entender John Bunyan.
A Igreja Evangélica Assembleia de Deus surgiu no Brasil em junho de 1911, na cidade de Belém, estado do Pará  através dos missionários Batistas Daniel Berg e Gunnar Vingren, aportando em terras brasileiras vindo da Suécia, iniciaram atividade missionária e de ensino bíblico.
Araújo descreve assim o início da Escola Bíblica Dominical no Brasil:

Em agosto de 1911, são realizadas as primeiras aulas da Escola Dominical da Assembleia de Deus, na casa de João Batista Carvalho, em Belém. Em 1919, começa a ser publicado o suplemento Estatutos Dominicais, no Jornal Boa Semente, são as primeiras lições impressas para serem utilizadas pelos alunos da Escola Dominical nas Assembleias de Deus. ( ARAUJO, 2007, p. 43.)

     A escola dominical desde seu começo continuamente permaneceu ligada à função de ensino a todos os participantes, alcançando as mais diferentes faixas etárias, e classes de acordo com a idade, colaborando para muitas pessoas apanharem o aprendizado.
Explica Pereira no que se refere à Escola Dominical,

    É importante ressaltar sua centralidade quanto à trajetória da Igreja Assembleia de Deus e de seus fundadores. Na verdade, todas as denominações protestantes, que chegaram ao Brasil, organizaram uma Escola Dominical em sua prática de evangelismo e ensino. Assim, já em agosto de 1911, Daniel Berg e Gunnar Vingren ministram as primeiras aulas da Escola Dominical, na casa de José Batista de Carvalho, em Belém. Em 1919, é publicado, como material de apoio para as aulas, o suplemento Estudos Dominicais precursor da revista Lições Bíblicas.(PEREIRA, 2011, p. 19.)
Café com Deus na Igreja Missão VIDE.

Históricos como estes também foram percorridos por outras denominações como os Batistas, os Anglicanos, os Menonitas e outras.
Concluída esta parte histórica, façamos algumas exposições sobre a Educação Cristã e sua estruturação e os desafios na atualidade.


 3- Estruturação da Escola Bíblica e atual situação frente aos desafios da pós-modernidade.

Uma estrutura educacional existe para promover o processo de ensino-aprendizagem. Porém na Escola Bíblica muitas vezes acontece o contrário: professor e aluno são oprimidos pela estrutura. São muitas as exigências para o professor da Escola Dominical, além de ensinar a questões da bíblia, também deve ser exemplo em sua vida cristã; evangelizar colocando Cristo como Salvador em qualquer lição que ensinar; ser o condutor da classe na visitação dos doentes e faltosos e ainda ser o amigo e conselheiro de todos os alunos.
O professor Leonard T. Van Horn explicou:

Que o ensino, segundo a Bíblia, é simplesmente a satisfação de uma necessidade divinamente ordenada (a renovação do homem caído e redimido no que Deus queria que ele fosse), em uma maneira divinamente ordenada o uso de métodos consequentes com a autoridade máxima, as Escrituras. (Van Horn,1985, p. 191b)


Usando métodos clássicos ordenamos e uma estrutura sistemática  de escola dominical de acordo com funções. O apóstolo Paulo dá a seguinte recomendação em sua Carta à Igreja de Corinto: “Tudo, porém seja feito com decência e ordem”, 1Co 14.40.[8]
A maneira sistemática como desenvolveu o seu ministério e a forma como procedia demonstrava o grau de sua organização para ensinar os discípulos que lhe acompanhavam.
As pequenas coisas que fazia eram organizadas, por exemplo, quando alimentou a multidão de cinco mil homens, sem contar as mulheres e crianças. Fez com que a multidão sentasse em grupos numa correta lição de como conduzir. Nos preceitos de Cristo, aprendemos ainda a maneira como Ele organizou as parábolas em direção a uma finalidade. O Reino de Deus foi o centro de tendência de todas as parábolas pronunciadas por Jesus Cristo. A estrutura pessoal e administrativa inclui com o governo da igreja, a direção da Escola Dominical, os professores e os alunos da mesma.
Superintendente, coordenador e dirigente que incumbem a dirigir a Escola,planejar junto ao pastor as atividades e projetos internos e externos da Escola; observar se todas as classes estão funcionando, manter uma boa equipe de professores  através de cursos de atualização adequados.
 Indicar os vários serviços da Escola a pessoas habilitadas e voluntárias para que estes também recebam experiência na liderança e em trabalhos pautados ao programa da Escola; reunir a equipe de cooperadores (professores, secretários, auxiliares etc.) ao menos uma vez no trimestre para juntos planejarem novos trabalhos e projetos da Escola e, também, para resolverem problemas que porventura existam; promover sempre os melhores interesses do Reino de Deus através da Escola Dominical.
Não obstante também repensar a estrutura da escola Dominical frente aos desafios da  globalização e  pós-modernidade, como nos ensina o professor Élton de Oliveira Nunes:

O mundo globalizado exige uma nova maneira de pensar e se relacionar. As formações clássicas estão rapidamente sendo substituídas por novas formas e a sociedade se depara com temas nunca antes mencionados.  A Bioética, o terrorismo, a fragmentação nos modos de relação, a clonagem e outros temas levam a discussões e a necessidade de uma busca constante pelo saber e pelo conhecimento. Por outro lado, o avanço tecnológico afetou a conduta do homem e o próprio modo de equacionar o tempo e as distâncias foram modificados. (NUNES,2005,p7)



Cada igreja precisa fazer uma autoanálise a fim de conferir como poderá responder aos imperativos de seus membros, isto pode implicar em rever sua estrutura organizacional, seu programa de educação cristã, sua forma de ministrar às pessoas da comunidade, etc.
Charles Swindoll explica que:

O nosso desafio é permanecer atualizados, para servir à nossa geração, sem, contudo alterar de forma alguma a Palavra de Deus. Estilos e métodos mudam e precisam ser atualizados. Mas, e a verdade? Essa é eterna. Não está sujeita a mudanças. A questão chave... pode ser expressa em uma única sentença. Devemos estar dispostos a deixar o familiar sem perturbar o essencial. Para ministrar eficazmente, a igreja precisa despertar para aquilo que muda e o que não muda: Swindol, 1996, p.138)

    Assim também podem interrogar quais implicações da Pós-modernidade desafiam a estrutura da Escola Dominical, Francis Schaeffer alerta para a questão que por trás de uma conjecturada piedade apresentava uma realidade desfalcada por uma ortodoxia anticristã.

 A esta altura parece já ter ficado evidente que o Cristianismo e a nova teologia não mantêm nenhum vínculo, exceto no uso de uma terminologia comum, aplicada com sentidos bem diferentes (SCHAEFFER,2002. p. 156).

Em suma, convivendo em um tempo globalizado de inconstância doutrinária e modelos excêntricos de ensinos submergem ao espaço das igrejas e assim precisa-se de clareza para questionar se tem respaldo bíblico ou não mantendo a ortodoxia frente à modernidade e a necessidade de se enquadrar a mudanças que o tempo, o lugar e as situações do meio  exige.
Uma das marcas da pós-modernidade é exatamente esta, o que importa não é o certo ou errado, mas como eu me sinto. Não conhecem as implicações de sua fé para o mundo contemporâneo. Não conhecem os principais ensinamentos bíblicos sem desmerecer a arte, musica e talentos.



Referencias

ARMSTRONG, Hayward. Bases da Educação Cristã, Rio de Janeiro: JUERP, 1992.

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

BÍBLIA Sagrada: Nova versão internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2000.

Leonard T. Van Horn, Enseñar, Enseñaza, Maestro:In: E.F. Harrison, Diccionario de Teologia, Grand Rapids, Michigan: TELL,1985.

Max L. Batchelder, O homem que inventou a Escola Dominical. Brasil Presbiteriano, setembro de 1985.

MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir. A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: ASTES, 1995.

MENDONÇA, Antônio Gouveia Mendonça; FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 1990.

NUNES, Élton de Oliveira. Desafios e Alternativas para a Práxis Educacional Religiosa na Atualidade: uma Análise a partir da Convenção Batista Brasileira. Theós (FTBC. Online), v. nº1, 2005.
 
REILY, Duncan Alexander. História documental do protestantismo no Brasil. 3ªed. São Paulo: ASTE, 2003.
__________________A Origem das Escolas Dominicais: Expositor Cristão, 10/01/1957.

SCHAEFFER, Francis. O Deus que intervém. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002.

 SIMONTON, Ashbel Green. O Diário de Simonton: 1852-1866. Trad. D. R. de Moraes Barros. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2002.

Swindoll, Charles R.A Noiva de Cristo - Renovando nossa paixão pela Igreja. São Paulo: Ed.Vida,1996.

LESSA, Vicente Themudo. Annais da 1ª Egreja Presbyteriana de São Paulo (1863-1903). São
Paulo: Ed. Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo 1938.




[1] Ele era o proprietário e editor do Gloucester Journal que fora criado em 1722, pelo seu pai, Robert Raikes.
[2]  Apud Duncan A. Reily, A Origem das Escolas Dominicais:  Expositor Cristão, 10/01/1957,p. 7.
[3] Hayward Armstrong, Bases da Educação Cristã, Rio de Janeiro: JUERP., 1992, p. 74.
[4] Apud Max L. Batchelder, O homem que inventou a Escola Dominical: Brasil Presbiteriano, setembro de 1985, p. 8.
[5] Vicente T. Lessa, Annaes da 1ª Egreja Presbyteriana de São Paulo, p. 700.
[6] Mansão “Gerheim, residência dos Kalley no distrito petropolitano de Schweizaerthal (bairro suíço)  em Petrópolis, no final de 1855.
[7] SIMONTON, Ashbel Green. O Diário de Simonton: 1852-1866. Trad. D. R. de Moraes Barros. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2002.
[8] Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.
1 Coríntios 14:40

Um comentário:

  1. Assuntos sobre os Sumérios ou dinossauros são abordados nos estudos?

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