A
Escola Dominical; sua estruturação, história e atual situação frente aos
desafios da pós-modernidade.
Por
Oseias de Lima Vieira
1-
Origem da Escola Dominical
Durante dezessete séculos de história da
igreja, não encontramos nenhuma instituição que foi voltada notadamente para receber às necessidades
espirituais das crianças. Escolas
dominicais nasceram em resposta a uma necessidade de instrução bíblica. Elas de
início foram independente das igrejas que as opunham alegando desvio do Dia do
Senhor e da inutilidade de instruir crianças desprovidas.
Quando comemoramos o dia da Escola Dominical
no 3° domingo de setembro, normalmente lembramos o seu fundador, Robert Raikes
(1736-1811), jornalista inglês que no ano de 1780, em Gloucester[1],
na Inglaterra, começou um trabalho de educação com meninos de rua,
ensinando-lhes, além da Bíblia, aritmética e inglês. Equivocadamente, tornou-se conhecido como o
criador da escola dominical, pois só anos mais tarde as pesquisas revelaram o
pioneirismo da jovem Hannah Ball. Em 1769, uma inglesa
havia começado trabalho similar em High Wycombe. Hannah Ball relataria o seu
trabalho a John Wesley em 1770:
A história registra que no ano de 1769, a jovem Hannah Ball Moore, com 26 anos de idade, criou a primeira Escola Dominical em sua residência. Ela aceitou a Cristo através de um sermão de João Wesley e se comprometeu com a evangelização de crianças nos domingos pela manhã. Imagem ilustrativa
As crianças se reúnem duas vezes por semana, aos
domingos e segundas-feiras. É um grupo meio selvagem, mas parece receptivo à
instrução. Trabalho entre eles com a ânsia de promover os interesses de Cristo[2].
Com entusiasmo e apoio
de inumeráveis pessoas, tais como, John Wesley (1703-1791) e William Fox, (1736-1826)
[3],diácono
da Igreja Batista da Rua Prescott, em Londres que fundou a primeira organização para
promover escolas dominicais. Os dois deram
apoio a Raikes, mesmo antes que Raikes mostrar-se ao público o que vinha
acontecendo nas cozinhas de Gloucester por aproximadamente três anos.
Rev.John Wesley |
O
movimento floresceu as Escolas dominicais se multiplicaram, a rainha Carlota em
certa disse audiência com a Raikes disse, “eu tenho a certeza que as escolas dominicais
são, atualmente, a melhor instituição prática para controlar esses elementos
indisciplinados e violentos da sociedade e providenciar-lhes uma educação
básica[4].”
Os Wesleys exortaram todas as Sociedades Metodistas
a instituírem uma escola dominical. Outras denominações foram mais lentas em
responder, e foi por volta de antes de 1900 que as escolas dominicais tiveram
aceitação geral. Até o momento da morte
Raikes, em 1811, havia quase meio milhão de crianças matriculadas nas Escolas
Dominicais. William Fox fundou a Sunday School Society em Londres, em 1785, e,
apoiado por vários amigos ricos, ele começou a espalhar a ideia.
Quando
os primeiros missionários protestantes começaram a chegar ao Brasil, o movimento
das Escolas Dominicais já estava firmado na Inglaterra, tendo também, se
tornado muito forte nos Estados Unidos e logo a escola dominical também foi
implantado no Brasil antes mesmo de se estabelecer Vejamos então, como a Escola Dominical surgiu
no Brasil.
2-
A Escola Dominical no Brasil
Em
1836, o Rev. Justin Spaulding organizou no Rio de Janeiro, entre estrangeiros,
uma congregação com cerca de 40 pessoas e em junho abriu uma Escola Dominical
com 30 alunos, dos quais alguns eram brasileiros, ensinados na sua própria
língua conforme consta no relatório enviado ao secretário correspondente da Sociedade Missionária da Igreja Metodista. Episcopal
datado de 01 de setembro de 1836:
(...)
Conseguimos organizar uma escola dominical, denominada Escola Dominical
Missionária Sul-Americana, auxiliar da União das Escolas Dominicais da Igreja
Metodista Episcopal... Mais de 40 crianças e jovens se tornaram interessados
nela (...). Está dividida em oito classes com quatro professores e quatro
professoras. Nós nos reunimos às 16:30 aos domingos. Temos duas classes de
pretos, uma fala inglês, a outra português.
Atualmente parecem muito interessados e ansiosos por aprender. (Duncan A, 1984, p. 81-82)
O
trabalho do missionário Metodista apesar de ter sido bem iniciado, teve curta
duração, a missão metodista, por várias causas, terminou as suas atividades no
Brasil em 1841. Neste mesmo ano ou em 1842 o Rev. Spaulding regressou aos
Estados Unidos.
Outros
missionário igualmente trouxeram a escola dominical ao Brasil como Robert Reid Kalley (1809-1888), médico e
pastor escocês sua esposa, Srª Sarah Poulton Kalley (1825-1907) os dois Congregacionais e ainda citamos o Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867) que foi
o primeiro missionário presbiteriano a se estabelecer no Brasil 12 de agosto de 1859.
De
acordo com Vicente T. Lessa[5],
Kalley realizava um trabalho muito corrido por atividades de âmbito médico,
fundando inclusive um hospital
educacional e religioso.
A
Escola Dominical congregacional foi implantada pelo casal Kalley em Gerheim[6] na
tarde de 19 de agosto de 1855. Isto ocorreu com a permissão do embaixador
americano Sr. Webb, que ainda não desocupara a casa, com quem o Dr. Kalley fez
boa amizade. Na ocasião a Srª Sarah Poulton Kalley leu a história do profeta
Jonas, ensinou- lhes alguns hinos e deram graças ao Senhor.
O
rev. Ashbel Green Simonton missionário presbiteriano começou uma classe de
Escola Dominical no Rio de Janeiro, em 22 de abril de 1860 conforme consta no
diário de Simonton[7]
este foi o seu primeiro trabalho em português. Os documentos utilizados com as
cinco crianças presentes (três americanas da família Eubank e duas alemãs da
família Knaack), foram: A Bíblia, O Catecismo de História Sagrada e o Progresso
do Peregrino, de Bunyan. Duas das
crianças, Amália e Mariquinhas da família Knaack admitiram que na segunda aula 29
abril de 1860, terem dificuldade em entender John Bunyan.
A
Igreja Evangélica Assembleia de Deus surgiu no Brasil em junho de 1911, na
cidade de Belém, estado do Pará através
dos missionários Batistas Daniel Berg e Gunnar Vingren, aportando em terras
brasileiras vindo da Suécia, iniciaram atividade missionária e de ensino bíblico.
Araújo
descreve assim o início da Escola Bíblica Dominical no Brasil:
Em agosto
de 1911, são realizadas as primeiras aulas da Escola Dominical da Assembleia de
Deus, na casa de João Batista Carvalho, em Belém. Em 1919, começa a ser
publicado o suplemento Estatutos Dominicais, no Jornal Boa Semente, são as
primeiras lições impressas para serem utilizadas pelos alunos da Escola
Dominical nas Assembleias de Deus. ( ARAUJO,
2007, p. 43.)
A escola dominical desde seu começo
continuamente permaneceu ligada à função de ensino a todos os participantes,
alcançando as mais diferentes faixas etárias, e classes de acordo com a idade,
colaborando para muitas pessoas apanharem o aprendizado.
Explica Pereira no que se refere à Escola Dominical,
É importante ressaltar sua centralidade
quanto à trajetória da Igreja Assembleia de Deus e de seus fundadores. Na
verdade, todas as denominações protestantes, que chegaram ao Brasil,
organizaram uma Escola Dominical em sua prática de evangelismo e ensino. Assim,
já em agosto de 1911, Daniel Berg e Gunnar Vingren ministram as primeiras aulas
da Escola Dominical, na casa de José Batista de Carvalho, em Belém. Em 1919, é
publicado, como material de apoio para as aulas, o suplemento Estudos
Dominicais precursor da revista Lições Bíblicas.(PEREIRA, 2011, p. 19.)
Históricos
como estes também foram percorridos por outras denominações como os Batistas,
os Anglicanos, os Menonitas e outras.
Concluída
esta parte histórica, façamos algumas exposições sobre a Educação Cristã e sua
estruturação e os desafios na atualidade.
3-
Estruturação da Escola Bíblica e atual situação frente aos desafios da
pós-modernidade.
Uma
estrutura educacional existe para promover o processo de ensino-aprendizagem.
Porém na Escola Bíblica muitas vezes acontece o contrário: professor e aluno
são oprimidos pela estrutura. São muitas as exigências para o professor da
Escola Dominical, além de ensinar a questões da bíblia, também deve ser
exemplo em sua vida cristã; evangelizar colocando Cristo como Salvador em
qualquer lição que ensinar; ser o condutor da classe na visitação dos doentes e
faltosos e ainda ser o amigo e conselheiro de todos os alunos.
O
professor Leonard T. Van Horn explicou:
Que
o ensino, segundo a Bíblia, é simplesmente a satisfação de uma necessidade
divinamente ordenada (a renovação do homem caído e redimido no que Deus queria
que ele fosse), em uma maneira divinamente ordenada o uso de métodos
consequentes com a autoridade máxima, as Escrituras. (Van Horn,1985, p. 191b)
Usando
métodos clássicos ordenamos e uma estrutura sistemática de escola dominical de acordo com funções. O
apóstolo Paulo dá a seguinte recomendação em sua Carta à Igreja de Corinto:
“Tudo, porém seja feito com decência e ordem”, 1Co 14.40.[8]
A
maneira sistemática como desenvolveu o seu ministério e a forma como procedia
demonstrava o grau de sua organização para ensinar os discípulos que lhe
acompanhavam.
As
pequenas coisas que fazia eram organizadas, por exemplo, quando alimentou a multidão
de cinco mil homens, sem contar as mulheres e crianças. Fez com que a multidão
sentasse em grupos numa correta lição de como conduzir. Nos preceitos de
Cristo, aprendemos ainda a maneira como Ele organizou as parábolas em direção a
uma finalidade. O Reino de Deus foi o centro de tendência de todas as parábolas
pronunciadas por Jesus Cristo. A estrutura pessoal e administrativa inclui com
o governo da igreja, a direção da Escola Dominical, os professores e os alunos
da mesma.
Superintendente,
coordenador e dirigente que incumbem a dirigir a Escola,planejar junto ao
pastor as atividades e projetos internos e externos da Escola; observar se
todas as classes estão funcionando, manter uma boa equipe de professores através de cursos de atualização adequados.
Indicar os vários serviços da Escola a pessoas
habilitadas e voluntárias para que estes também recebam experiência na
liderança e em trabalhos pautados ao programa da Escola; reunir a equipe de
cooperadores (professores, secretários, auxiliares etc.) ao menos uma vez no
trimestre para juntos planejarem novos trabalhos e projetos da Escola e,
também, para resolverem problemas que porventura existam; promover sempre os
melhores interesses do Reino de Deus através da Escola Dominical.
Não
obstante também repensar a estrutura da escola Dominical frente aos desafios da globalização e pós-modernidade, como nos ensina o professor Élton
de Oliveira Nunes:
O
mundo globalizado exige uma nova maneira de pensar e se relacionar. As
formações clássicas estão rapidamente sendo substituídas por novas formas e a
sociedade se depara com temas nunca antes mencionados. A Bioética, o terrorismo, a fragmentação nos
modos de relação, a clonagem e outros temas levam a discussões e a necessidade
de uma busca constante pelo saber e pelo conhecimento. Por outro lado, o avanço
tecnológico afetou a conduta do homem e o próprio modo de equacionar o tempo e
as distâncias foram modificados. (NUNES,2005,p7)
Cada
igreja precisa fazer uma autoanálise a fim de conferir como poderá responder
aos imperativos de seus membros, isto pode implicar em rever sua estrutura
organizacional, seu programa de educação cristã, sua forma de ministrar às
pessoas da comunidade, etc.
Charles
Swindoll explica que:
O
nosso desafio é permanecer atualizados, para servir à nossa geração, sem,
contudo alterar de forma alguma a Palavra de Deus. Estilos e métodos mudam e
precisam ser atualizados. Mas, e a verdade? Essa é eterna. Não está sujeita a
mudanças. A questão chave... pode ser expressa em uma única sentença. Devemos
estar dispostos a deixar o familiar sem perturbar o essencial. Para ministrar
eficazmente, a igreja precisa despertar para aquilo que muda e o que não muda: Swindol, 1996, p.138)
Assim também podem interrogar quais implicações
da Pós-modernidade desafiam a estrutura da Escola Dominical, Francis Schaeffer
alerta para a questão que por trás de uma conjecturada piedade apresentava uma
realidade desfalcada por uma ortodoxia anticristã.
A esta altura parece já ter ficado evidente
que o Cristianismo e a nova teologia não mantêm nenhum vínculo, exceto no uso
de uma terminologia comum, aplicada com sentidos bem diferentes (SCHAEFFER,2002.
p. 156).
Em
suma, convivendo em um tempo globalizado de inconstância doutrinária e modelos
excêntricos de ensinos submergem ao espaço das igrejas e assim precisa-se de
clareza para questionar se tem respaldo bíblico ou não mantendo a ortodoxia
frente à modernidade e a necessidade de se enquadrar a mudanças que o tempo, o
lugar e as situações do meio exige.
Uma
das marcas da pós-modernidade é exatamente esta, o que importa não é o certo ou
errado, mas como eu me sinto. Não conhecem as implicações de sua fé para o
mundo contemporâneo. Não conhecem os principais ensinamentos bíblicos sem
desmerecer a arte, musica e talentos.
Referencias
ARMSTRONG, Hayward. Bases da Educação Cristã, Rio de
Janeiro: JUERP, 1992.
ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal.
Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
BÍBLIA Sagrada: Nova versão internacional. São Paulo:
Sociedade Bíblica Internacional, 2000.
Leonard
T.
Van Horn, Enseñar, Enseñaza, Maestro:In: E.F. Harrison, Diccionario de Teologia, Grand Rapids, Michigan: TELL,1985.
Max
L.
Batchelder, O homem que inventou a
Escola Dominical. Brasil Presbiteriano, setembro de 1985.
MENDONÇA, Antonio
Gouvêa. O Celeste Porvir. A Inserção do
Protestantismo no Brasil. São Paulo: ASTES, 1995.
MENDONÇA, Antônio
Gouveia Mendonça; FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola,
1990.
NUNES, Élton de Oliveira.
Desafios e Alternativas para a Práxis
Educacional Religiosa na Atualidade: uma Análise a partir da Convenção
Batista Brasileira. Theós (FTBC. Online), v. nº1, 2005.
REILY, Duncan
Alexander. História documental do
protestantismo no Brasil. 3ªed. São Paulo: ASTE, 2003.
__________________A Origem das Escolas Dominicais:
Expositor Cristão, 10/01/1957.
SCHAEFFER, Francis. O Deus que intervém. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2002.
SIMONTON, Ashbel Green. O Diário de Simonton: 1852-1866. Trad. D. R. de Moraes Barros. São
Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2002.
Swindoll,
Charles
R.A Noiva de Cristo - Renovando nossa
paixão pela Igreja. São Paulo: Ed.Vida,1996.
LESSA, Vicente Themudo.
Annais da 1ª Egreja Presbyteriana de
São Paulo (1863-1903). São
Paulo: Ed. Igreja
Presbiteriana Independente de São Paulo 1938.
[1] Ele era o proprietário e editor
do Gloucester Journal que fora criado em 1722, pelo seu pai, Robert Raikes.
[2]
Apud Duncan A. Reily, A Origem
das Escolas Dominicais: Expositor
Cristão, 10/01/1957,p. 7.
[3] Hayward Armstrong, Bases da Educação Cristã, Rio de
Janeiro: JUERP., 1992, p. 74.
[4] Apud Max L. Batchelder, O homem que inventou a Escola Dominical:
Brasil Presbiteriano, setembro de 1985, p. 8.
[6] Mansão “Gerheim, residência dos Kalley
no distrito petropolitano de Schweizaerthal (bairro suíço) em Petrópolis, no final de 1855.
[7] SIMONTON, Ashbel Green. O Diário de Simonton: 1852-1866. Trad.
D. R. de Moraes Barros. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2002.
[8]
Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.
1 Coríntios 14:40
Assuntos sobre os Sumérios ou dinossauros são abordados nos estudos?
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